20/01/2013

Jeito de ser.

Hoje cedo, sentado diante um monte de livros… pensamentos errantes… meus olhos foram atraídos por um título: Contos Plausíveis*, abri o livro em uma página qualquer e me deparei  com o conto Maneira de Amar…

 

“O jardineiro conversava com as flores e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza.

Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na devida ocasião.

O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho.

Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. "Você o tratava mal, agora está arrependido?" "Não, respondeu, estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava"

 

É bem verdade que cada um ama e age de um jeito que lhe é próprio; pena que nem sempre conseguimos perceber o amor alheio e, também, raramente consideramos a possibilidade de mudar nosso jeito de demonstrar amor quando ele não é adequadamente percebido.

 

*Contos Plausíveis – Carlos Drummond de Andrade – José Olympio Editora – Rio de Janeiro – 1981.