Cresci em um tempo onde, em casa, eram velados os mortos…
Um tempo no qual crianças iam a velórios e a morte não lhes era escondida ou negada...
E, uma ou duas vezes, fui repreendido por brincar sob cachões…a efervescência da vida se contrapondo à imobilidade da morte…vida e morte; sempre unidas e sempre separadas…
Talvez por isso me compadeça com o medo e ingenuidade daqueles que tentam, com silêncio e “cosméticos”, colocar na sombra essa “inevitável senhora”.
Talvez por isso tenha me surpreendido quando fui criticado por levar meus filhos, ainda crianças, aos velórios do avô e do primo…
- Você deveria poupá-los disto! Disseram.
Como se devesse me sentir culpado por permitir que crianças indefesas fossem apresentados a uma “indesejável senhora”.
Talvez por isso tenha gostado do artigo de Cláudia Collucci sobre essa “incompreendida senhora”.
Talvez, também por isso, tenha resistido a uma medicina que se agarrando exageradamente à vida, só agora, com os cuidados paliativos, comece a reconhecer um antigo/novo lado de uma “respeitável senhora”.
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