06/03/2011

Olhos da alma.

A algazarra das maritacas, na jabuticabeira da casa vizinha à minha, chamou-me a atenção… Quando, menino ainda, me mudei para Uberlândia, esta cidade era muito menor; vim morar a duas quadras de onde moro hoje, mas a paisagem e a vida que eu vislumbrava eram diferentes e, entre outras coisas, era comum observar, além dos atrevidos pardais; rolinhas, tizius e coleirinhas nos terrenos baldios perto de casa. O que antes era quase periferia da cidade hoje é centro e, apesar de continuar vendo pardais e algumas rolinhas, não vejo tizius nem coleirinhas; mas vejo pássaros que antes, ariscos, não se acercavam. Pombas do bando pernoitam nas árvores das praças centrais, bem-te-vis me acordam bem cedo, curicacas ‘adquiriram’ um espaço na caixa d’água de um edifício e tucanos freqüentamimage o alto dos prédios.

Porque esses pássaros mudaram de comportamento? Na realidade não mudaram, só mudaram de lugar, tornou-se mais viável para eles viver nas cidades; a vida nos descampados produzidos pelo desmatamento é desconfortável e mais arriscada; mas o comportamento é o de sempre, e é instintivo... Sobreviver da melhor maneira possível ainda é a ‘palavra de ordem’.

Me indago porque nós, humanos; que também estamos passando por ‘maus pedaços’; não fazemos como os pássaros, usamos nosso instinto de sobrevivência e nos mudamos. Mas mudar para onde? Não há para onde mudar, e mesmo se houvesse não adiantaria muito, provavelmente tudo iria ser repetido pois, infelizmente, levaríamos conosco nossas ‘tralhas’ mentais, nosso comportamento adoecido, nossa cegueira...

Talvez seja isso! Talvez devamos mudar de médico… Vamos procurar o oftalmologista, mas que seja um especialista em olhos da alma e que possa nos fazer voltar a enxergar por eles, já que instinto é atributo da alma e não da mente...

É verdade! Pássaros não têm uma mente suficientemente desenvolvida para atrapalhar a visão dos olhos da alma, por isso, para eles é bastante mudar de lugar.